Acontece assim: você viaja pela primeira vez com uma namorada para passar o final de semana juntos. Trata-se de uma viajem romântica para um desses lugares onde chove muito, é frio, tem muito barro, nenhum lugar para estacionar e um monte de lojinhas vendendo compotas e cachaças de origem duvidosa que você nem tem coragem de experimentar. Mas o chalé tem lareira e o fogo aquece os corações, como se sabe.
Você leva uma mala, mas teria levado uma mochila se o ziper não tivesse emperrado na hora de fechar. E sua namorada leva duas. Uma menor, maior que a sua, e uma grande que faz você pensar que vai mais alguém com vocês, afinal, ninguém poderia levar tanta coisa para um final de semana. Mas, para seu alívio, só ela entra no carro.
Ao chegarem ao chalé que, assim como um Big Mac, na foto na internet parecia bem maior, você tira sua nécessaire da mala e coloca suas coisas no banheiro. Só escova de dente, pente e barbeador, afinal, o chalé fornece tudo o mais que você precisa. Que é o sabonete, pasta de dental e xampu. Sua namorada então diz: ah, vou aproveitar e colocar minhas coisinhas no banheiro também. E abre a mala menor e você descobre então que aquilo é a nécessaire dela!
Depois, na hora do banho a dois - e aqui vou me ater só ao banho propriamente dito -, você pensa em pegar os sabonetinhos e xampuzinhos do chalé, mas decide ficar na defensiva e esperar os passos dela. Tem vários frascos, de todas as cores e tamanhos que ela trouxe e mais uma coisa estranha que só depois você descobre que se trata de uma esponja com ação esfoliante. E esta palavra você consulta no Google quando volta para entender o que é. Meu corretor ortográfico, por exemplo, não reconhece esfoliante como uma palavra válida.
O sabonete é liquido e tem um cheiro tão bom que se você não estivesse acompanhado tomaria um gole para provar. Em seguida sua namorada começa a lavar seus cabelos com um xampu feito com um monte de coisas e te faz pensar que tem que estudar mais para saber como comprar um xampu que preste. Depois vem o condicionador, coisa que você sempre achou pura frescura, mas pensa que quem entra no banho é para se molhar. E o banho já passou de meia hora, coisa que você sempre achou um absurdo, mas você está como criança hipnotizado com todos aqueles cheiros e espumas e o processo em si. Então, quando você acha que terminou, vem um outro sabonete, mas este só para o rosto, para controlar a oleosidade. Até então tudo era dividido, o processo é igual para o dois. Mas sua namorada pega um frasco bem pequeno, murmura alguma coisa que você entende que não é para você. E você a olha usando aquilo como criança vendo adultos tomando cerveja. Sabe que é bom mas não pode provar.
Saem do banho e você tem certeza que tomou o melhor banho da sua vida. E por um momento passa a dar razão ao tempo que as mulheres dedicam ao banho. Você vai se trocar, pois, vão sair para jantar. E ela se coloca em frente ao espelho com o secador e pega mais um monte de cremes e demora uma eternidade. Mas, desta vez você não reclama e ainda fica na expectativa de ser convidado para usar mais um desses produtos que você não sabe para que serve.
Na volta do jantar, sua namorada já está meio alta com as duas taças de vinho docinho que só mulher gosta e que você toma para não criticar o gosto dela, apesar de ter ficado com vergonha de ter feito o pedido ao garçom.
- Vem - diz ela insinuosa olhando para a cama.
Você então olha para o banheiro por um instante. Em seguida para ela e para a cama e pensa: ah, banho é bom, mas nem tanto!