Presente - A Difícil Arte de Dar
Sempre tive dificuldades com presentes. Dar presente a alguém que se gosta, de uma forma espontânea, quando se encontra algo interessante por acaso, é gostoso. No entanto, aqueles presentes de anivesários, natal e dia das mães em que você é obrigado a cumprir com sua parte no ritual, é uma das maiores aflições da vida humana. Eu acho.
Dia dos namorados é pior. Não tem como fugir! Você resolve não dar um presente para sua namorada porque simplesmente não tem a menor idéia do que dar. Vocês estão juntos há pouco tempo e você tem apenas uma vaga idéia de suas preferências. Aí você pensa, vou fingir que esqueci. Não funciona! Tudo no mundo o faz lembrar. E sempre quando ela está do lado.
Depois você desiste do esquecimento. Resolve dar só uma lembrancinha. Algo com mais sentimento, com um significado para os dois ou, simplesmente algo bem barato, afinal a grana está curta. Você compra um maravilhoso porta incenso na feira feito de bambu. Coisa fina! Aí chega sua "amiga" e te diz: olha, um passarinho verde me contou que você vai ganhar um presentão, heim? Pronto, já era a lembrancinha. Você não vai querer correr o risco de ver a cara dela de frustração ao abrir seu o presente. Agora só restam duas saídas: renogociar a dívida do carro ou terminar o namoro. Entende porque tantos relacionamentos terminam às vésperas do dia dos namorados? Depois voltam! Aí você dá a lembrancinha pela reconciliação.
Presente - A Difícil Arte de Receber
Receber um presente é algo que exige certa habilidade. Coisa que não tenho. Tenho uma profunda dificuldade para demonstar qualquer sinal de alegria quando ganho um gibi do Tio Patinhas no amigo oculto. Amigo oculto para mim sempre foi uma provação. E o gibi nem foi o pior presente.
Alguns presentes marcam. Outros, traumatizam. Tenho um amigo que já me contou várias vezes que ganhara uma motoquinha de brinquedo da avó. Ele tinha uns dezesseis anos e fazia um tremendo sucesso entre as meninas do colegial. Todas as vezes em que ele me contou isso, percebi uma mágoa em seu olhar. Nem tirei do plástico, dizia.
Já a minha avó, sempre deu presentes iguais para mim e para meu irmão. Sempre carrinhos. Meu irmão é oito anos mais novo. Quando ganhei o último carrinho dela, ao catorze anos, ficou evidente minha decepção. Valeu a pena não ter disfarçado. O próximo presente foi um porta-retratos. Foi minha mãe quem o tirou do plástico.