domingo, 13 de agosto de 2006

O Fim de Luiz Otávio*

Conheço Luiz Otávio desde pequeno. Solitário, some por longos períodos e depois aparece do nada contando seus problema, procurando um ombro amigo, procurando entender-se. É um sujeito confuso, estranho. Sua fobia social o torna inapto para as atividades mais simples da vida que contem com a presença de mais de uma pessoa, como bater-papo, jogar futebol, comprar pão na padaria. Luiz Otávio não consegue iniciar uma conversa. Nunca foi capaz. Não consegue sequer se manter numa.

Seu jeito de ser o deixa angustiado, deprimido. Sempre o vi desse jeito, sempre. O que varia é a intensidade. Sua vida é um grande peso. Suicídio é um pensamento seu recorrente. Mas sempre consegui dissuadí-lo. Não poucas vezes pensei, depois de um longo período sem contato, que Luiz Otávio já tivesse consumado o ato. Mas de repente ele aparece de novo. E com mais problemas. E mais angustiado. Luiz Otávio é um peso também para mim. Há sempre a possibilidade de ele aparecer num momento inconveniente e eu ter que largar tudo para ajudá-lo.

A última vez que o vi foi nesse final de semana. Ele me contou que tentara novamente se "inserir no mundo", como costuma dizer. A tarefa era simple, chamar uma amiga por quem ele tem uma certa queda para um cinema. Apesar de gostar de filmes iranianos e coisas do tipo, estava disposto a assistir qualquer coisa. Até mesmo aquelas apresentações sobre a vida de Cristo que acontecem em cidades do interior às vésperas do natal em praça pública. Bem, ele não conseguiu. Disse tudo que passou pela sua cabeça. Só que não passou pela sua cabeça as palavras filme, cinema, sair juntos e nem nada relacionado ao programa. Luiz Otávio se perdeu em seus pensamentos. Tropeçou neles. Não conseguiu juntar as palavras que saiam de sua boca. Nem ele sabia o que estava falando. Precisava de um milagre para sair daquela situação embaraçosa. E o milagre veio: levou um fora.

Depois que me contou isso, Luiz Otávio me disse com uma voz solene que estava farto de tudo isso e que estava decidido a fazer o que vinha adiando há muito tempo. Mas, desta vez, eu não lhe disse nada. Não lhe dei esperanças de que ele iria mudar. Eu não acredito que ele possa. Desisti dele. E eu também já estou farto do Luiz Otávio.


* Baseado em depoimentos apócrifos

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