sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Famas

Na turma, todos tinham uma fama. O Paulo era sortudo por uma vez ter ganhado uma leitoa numa quermesse aos quinze anos quando ainda vivia no interior. Nunca mais ganhou nada na vida. Mas ainda é o sortudo. Mesmo depois de todos os presentes que ganhara nos amigos ocultos em que participou: um gibi, um disco do Amado Batista e um prato!

O Peixoto era o inteligente. Quando estava na quarta série foi eleito o segundo melhor aluno da turma. Só perdeu para a Maria Teresa. Mas ela era japonesa, então não contava. Não se pode concorrer com uma japonesa, dizia. A família e os amigos aceitaram seu argumento. Anos mais tarde abandonou a faculdade e comprou um caminhão. Comprava alho no sul e o revendia no Piauí. Vivia uma vida apertada mas, ainda assim, mantinha a fama e os amigos ainda pediam sua opinião antes de tomar qualquer decisão importante.

O conquistador! Era assim que os amigos se referiam ao Guimarães. Fora o primeiro a se casar. Teve apenas três namoradas. Dizia quatro por ter terminado e voltado com uma delas. Mas, aos doze anos, foi beijado pela Ruth! Ah, a Ruth! Ela tinha quinze anos, era a mais bonita da escola e só namorava homens mais velhos. Um dia ela agarrou o Guimarães no corretor e lhe de um beijo. Foi só um selinho, mas ele tinha a prova! As marcas de batom eram, sem dúvida, da Ruth. O feito do Guimarães até hoje é lembrado. E, ninguém duvida, ele merece a fama que tem!

Já o Arlindo, que até então não tinha fama de nada, apareceu com essa. Se auto-definiu como o solitário e não deu explicações. Depois de muita insistência, ele contou que poucos dias antes fora a um shopping comprar uma tampa para o vaso sanitário. Desta feita, aproveitara para jantar em seu restaurante favorito. Pedira seu o prato favorito. Pedira o seu vinho favorito. Quase ao fim do jantar se deu conta que colocara a tampa da privada na cadeira a sua frente. Ela estava sentada, como que olhando para ele. Só alguém muito solitário, concluiu, pra levar a tampa da privada para jantar! Bem, ele ainda não tinha uma fama. Aceitamos a idéia e ele passou a ser o solitário da turma.

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